Boas vindas à todos!

Esta é a iniciativa de três professores de Psicologia (e cinéfilos), que passavam horas no whatsapp comentando inúmeros filmes, indicando novas (ou velhas) obras cinematográficas. Buscamos com este blog compartilhar com todos os interessados nossas indicações e opiniões, claro que bastante recheadas de visões psicológicas!


Caso se interesse pelo filme que indicamos, recomendamos que você assista o filme e retorne ao nosso texto, se possível comentando, concordando ou não com nossas opiniões, e claro dando as suas próprias!


Você é bem-vindo a participar com a gente!

domingo, 22 de março de 2015

Vida e Obra: A sublimação do amor em "O Jogo de Imitação"


Um dos indicados ao Oscar 2015 é "O Jogo de imitação", filme de Morten Tyldum que relata o papel representado na Segunda Guerra Mundial por Alan Turing (representado por Benedict Cumberbatch), que pode ser considerado o pai do computador moderno. Turing é um gênio hoje um pouco esquecido, mas cujos feitos mudaram a cara de nosso século. No filme, Turing participa de um grupo de descriptócrafos, que tentavam quebrar o Enigma, código de criptografia (mensagens que só podem ser lidas por aqueles que possuem uma senha que permite decodificar o texto) utilizado na guerra pela Alemanha nazista, para coordenar todos os ataques aos Aliados (Inglaterra, França, União Soviética, entre outros). Esse código era considerado inquebrável, mas Turing teve a ideia de construir uma máquina que era capaz de superar a criptografia alemã. 

O filme mostra Turing como um gênio com extrema dificuldade de lidar com os outros, com dificuldade de entender ironias e sarcasmo (alguém lembrou aí de Sheldon Cooper?). Entretanto, havia um detalhe que poderia colocar o trabalho de Turing em risco: ele era homossexual. Claro que hoje ainda há homofobia, mas na Inglaterra, práticas homossexuais consistiam em crime de indecência, punível pela lei. Tanto que, com 41 anos, suicidou-se, muito provavelmente devido ao sofrimento causado pela sua condenação, quatro anos antes. Para não ser preso, Turing submeteu-se à castração química: dosagem de grandes doses hormonais que reduzem o desejo sexual (cabe ressaltar que hoje em dia, em alguns países, a castração química ainda é utilizada para tratamento de pedófilos). É um tratamento que causa uma série de efeitos colaterais, e que atrapalhava o trabalho de Turing.



Entretanto, o que gostaria de abordar sobre o filme é uma interessante associação feita pelo diretor, e que, pelo que li, por biógrafos, entre a obra de Turing e sua relação com Christopher Morcom durante a escola (mais ou menos o que hoje em dia é o ensino médio). Mas antes, precisamos compreender um pouco sobre o conceito de sublimação de Freud.

Para Freud, os pensamentos inconscientes (principalmente os desejos e fantasias originados na infância), podem se manifestar na consciência através de processos defensivos que criam formas substitutas, simbólicas. Em caso de patologias, como nas neuroses, o recalque é a defesa que atua na manutenção desse conteúdo no inconsciente, que acabam passando pelos chamados "processos primários", que criam as formações sintomáticas. O caso de Anna O., por exemplo, cujo sintoma de hidrofobia (ela não conseguia beber água) era um símbolo da lembrança (tornada inconsciente) de ter visto o cachorro beber em uma xícara da família. Por outro lado, há formas saudáveis de transformação do conteúdo inconsciente. Uma delas é a sublimação. Nesse caso, a meta sexual do desejo é eliminada, e a energia da lembrança ou fantasia é empregada em uma ação que a representa simbolicamente. O desejo infantil de brincar com as fezes (e que é muito reprimido na fase que a criança aprende a usar o penico), pode ser a base na qual um escultor desenvolve simbolicamente sua arte. Assim, em vezes de mexer com fezes, ele transfere seus impulsos ao barro.

Alan Turing em 1951.
Mas o que isso tem a ver com Turing? Durante o filme, o diretor mescla cenas da amizade entre ele e Christopher. Foi esse quem apresentou a Turing um livro de criptografia, e ambos passaram a trocar mensagens que só eles poderiam decodificar. Entretanto, durante às férias, Christopher morre por consequência de tuberculose bovina. No filme, se tem a impressão de que o amigo havia ocultado de Turing a doença, mas há sites que desmentem o fato, colocando que ele havia sido avisado pela escola de que logo ele poderia perder seu amigo. De uma forma ou outra, podemos dizer que a morte de seu primeiro amor (Turing iria revelar seu sentimento ao amigo antes das férias, mas ele já havia ido embora) foi traumático para ele.

O interessante é perceber que, anos depois, Christopher seria o nome da máquina de Turing, aquela que decifrou o Enigma. é como se, na tentativa de manter vivo seu amor, ele tentasse recriá-lo, criando uma inteligência artificial que tinha o mesmo interesse que os amigos tinham em comum: enigmas. Assim, é como se todo o sentimento amoroso fosse elaborado na atividade científica de Turing, na tentativa, simbólica, de ressuscitar mecanicamente o amor de sua vida.


Turing (à esquerda) e Christopher (à direita)
Mas será isso saudável? Não poderíamos dizer que o melhor seria elaborar o luto, e assim poder abrir-se a novas relações, a novos amores? Claro que sim. Entretanto, a linha entre o normal e o patológico é tão frágil, principalmente quando se fala em grandes gênios. Há relatos de muitas mentes brilhantes com grandes sintomas e patologias, comportamentos inadaptados socialmente. Mas é no meio de tanta confusão emocional que nascem suas grandes ideias, e que mudam o mundo. Assim, na minha opinião, a sintomas que podem até destruir a vida pessoal, mas que criam uma vida coletiva, que se abrem a um novo mundo. Porque então não reconhecer que esse luto patológico, como o que viveu Turing, algo de positivo, que extrapola os limites da vida individual, suas dores e angústias, para tornar-se algo maior?

Por isso falo em Sublimação do amor. Creio que a visão do diretor é ver a estreita relação entre amor e razão, de mostrar que é no interior das loucuras afetivas de nosso coração que podem surgir as maiores ideias do pensamento humano.
















quinta-feira, 19 de março de 2015

O Sorriso de Monalisa

            

              Trata-se de um sensível e profundo filme que a partir dos discursos de gêneros (O que se espera de um corpo biologicamente feminino? O que se espera de uma vida nomeada como masculina) dispara reflexões sobre felicidade, amor, vida em sociedade, amizade, gosto pelo saber, paradigmas e algumas formas que o sistema disponibiliza para dar sentido à existência.
            No estado de Massachusetts no ano de 1953 a professora Katherine Watson chega para ministrar aulas de História da Arte na tradicional Wellesley College. Proveniente da ensolarada e progressista Califórnia, Katherine tem entusiasmo pelo saber, imagina que atuar em uma escola elitista, destinada apenas para mulheres, é uma forma de potencializar a emancipação feminina rumo a locais de liderança e transformação do mundo.
            Para a aplicada estudante Betty Warren a professora Watson “tinha em inteligência o que lhe faltava em pedigree”.
            Logo em sua primeira aula as bem vestidas e cultas alunas a surpreendem respondendo todo conteúdo do plano de ensino, evidenciando que conhecimento técnico não é um problema por ali.
            A surpresa maior está quando Katherine percebe que o discurso que subjetiva a maioria das mulheres daquela instituição não é diferente do que está lá fora: fazer um bom casamento e ser financeiramente dependente de um homem, estando os estudos em segundo plano, um pano de fundo para uma ‘boa e culta esposa’.



            A professora inicia uma jornada rumo a desconstrução daqueles engessantes paradigmas, que em suas palavras eram ‘uma nova forma de espartilho’ que pouco avançavam no quesito de colocar as mulheres em um lugar de emancipação.
            O filme também deixa implícito que a ideia de patriarcado, importante conceito que serviu para demonstrar os privilégios sociais/culturais/econômicos que os homens contavam e contam em relação às mulheres, precisa ser revista. Afinal, no campo afetivo que produz a significação de vida os homens estariam tão oprimidos quanto as mulheres, quando também são obrigados a performatizar rígidos papéis identitários.
            Esta ideia é exemplificada pelo professor de italiano Bill Dunbar, homem sedutor e inteligente que conta com a aparente liberdade masculina para dormir com quem quiser e desfrutar de sua solteirice depois dos 30, inclusive com suas alunas.         Porém, a miséria emocional com que homens são construídos no formato tradicional fica evidente quando de um bem sucedido herói de combate Dunbar é desmascarado como mero figurante da segunda guerra, sem nunca ter estado em campo de batalha. Afinal, porque ele precisava viver essa e outras mentiras como parte de seu ser? Quais expectativas são também depositadas neste tipo de subjetivação masculina?
            É desta percepção vazia que descobrimos como o discurso tradicional de masculinidade como sinônimo de força, liberdade, liderança, racionalidade e sexualidade compulsória pode alienar o homem do contato mais profundo com sua própria subjetividade, roubando a maioria de suas experimentações como ser humano. Os privilégios dados aos homens, quando olhados desta perspectiva, também restringem sua existência.
            Parece muito massacrante sustentar o pesado papel de “macho provedor” produzido à partir de uma renuncia de sua sensibilidade, na imposição de uma hipersexualidade, como se sua frieza e falta de tato fossem uma justificativa natural da diferença orgânica entre os sexos que organiza a sociedade, não sem um alto custo emocional para todas as expressões de gênero.
            Dunbar não é menos solitário do que a personagem Giselle Levy, a “subversiva aluna judia” que tinha em encontros sexuais corriqueiros e constantes não um possível estilo de vida potente mas sim uma forma de aliviar o vazio que se constituirá em sua vida, grande parte porque não encontrava significado nos paradigmas dominantes de amor, realização sexual e instituição do casamento (um dos tripés ideológicos do ocidente nos últimos 200 anos). Ambos pagavam preços diferentes, porém com fundos emocionais bem parecidos no vazio. Se tal arranjo de banalização sexual declarada é uma exceção às mulheres parece ser uma imposição aos homens.

            Dentre tantos outros disparadores o filme ganha muitos pontos ao não oferecer uma visão fechada do que seria amor e felicidade, a crítica aqui não é para o casamento, mas sim para a forma como o mesmo é oferecido e imposto como único e universal caminho. A própria Katherine se vê em um posicionamento inesperado ao reconsiderar sua vida unicamente boêmia enquanto suas alunas vão no movimento oposto.
            O sorriso de Monalisa nos mostra que o casamento é uma boa possibilidade, porém nem de longe é a única.

            Se ao olhar o quadro de Da Vinci não sabemos ao certo que segredos o sorriso esconde nem muito bem com o que ele se parece a narrativa vem nos chamar a atenção para um fato: o de que “ser” é muito mais importante do que “parecer”, nada mais atual para uma cultura que estimula a imagem e a ilusão do sucesso, produzindo aparente felicidade mas vazios e tristezas constitutivamente profundos. 

segunda-feira, 16 de março de 2015

Os 5 filmes que marcaram meu Inconsciente

Bom dia pessoal,

Hoje pensei em listar para vocês os filmes que considero mais influentes em minha vida até o dia de hoje. É claro que todas as listas envelhecem, e que esta talvez mudará demais... mas, por enquanto, os filmes listados aqui me marcaram ou por sua estrutura inovadora, ou pela profundidade de sua história. Enfim, foram filmes que me fizeram pensar bastante. O critério que usei para listá-los aqui foi, talvez, o do meu inconsciente. Isso mesmo. Deixei minha mente vagar por minha vida, pelos filmes que vi, e prestei atenção naqueles que mais voltavam a minha memória. Quando falamos em associação livre, aquilo que se repete constantemente no nosso discurso ou na nossa memória geralmente é um recado de nosso inconsciente, uma marca na consciência de seus processos afetivos. Assim, se algum filme sempre retorna a minha memória, é porque ele mobiliza internamente alguma coisa de minha vida interna. Então vamos lá!



O Fabuloso Destino de Amelie Poulain (2002)

Este filme me marcou de inúmeras formas. A estética das imagens, o cuidado que o diretor (Jean-Pierre Jeunet) teve com cada detalhe de iluminação, a delicadeza das narrativas... Mas o melhor de tudo foi a descrição que o narrador realizou de cada personagem. Esse filme mostra que nossa vida, o que somos, o que nos torna felizes, está nos detalhes mais irrelevantes, mais comuns... Compartilho com Amelíe o singelo prazer de enterrar meus dedos nos sacos de grãos, desde minha infância, e sempre me vêm à cabeça a sensação de cada grão tocando a pele, como se, em conjunto, me abraçassem. Para aqueles que estudam Psicologia, o filme é imperdível, pois nos mostra como muitas vezes temos medo de encarar alguns aspectos de nossa vida, e como a mudança, esmo que seja para nosso bem, nos dá medo, a ponto de vivermos enclausurados na dor cotidiana.

Cidade dos Sonhos (Muholand Drive, 2002)


Para quem gosta de filmes objetivos, com começo, meio e fim, melhor não se arriscarem por aqui. Mas se você gosta de se aprofundar na lógica inconsciente dos sonhos, esse é um prato cheio. O diretor David Lynch é mestre em criar histórias complexas, onde cada cena é, a meu ver, mais um símbolo que a representação direta do que ocorre com os personagens. Mas essa é uma análise superficial. O nome original do filme é Mulholland Drive, uma famosa estrada em Los Angeles. É nela que ocorre um acidente automobilístico, no qual Rita perde a memória, e acaba vivendo com Betty, uma aspirante a atriz. a história é contada em uma mistura de realidade e sonho, duas lógicas que se contrapõe e se misturam. Um dia pretendo analisar o filme através da psicanálise, mas ainda acho que a experiência de assistir é importante. Pouca vezes na vida nos colocamos voluntariamente frente ao que é confuso e obscuro. Entretanto, é aí que temos as melhores ideias.

Akira (1990)


Foi esse anime (animação japonesa) que iniciou nessa arte japonesa. Claro que já tinha visto vários animes em série, como Dragon ball, cavaleiros do zodíaco, entre outros que passaram na TV. Entretanto, o que me intriga são as histórias complexas, onde você tem que pensar muito para compreender a profundidade da história. Essa é uma história de distopia (são histórias que mostram um futuro apocalíptico, o oposto das utopias). Após a III Guerra Mundial, a cidade de Tóquio foi destruída e reconstruída como Neo-Tóquio. Um grupo de pesquisadores estudam os poderes sobrenaturais de algumas crianças, buscando compreender o que havia acontecido anos antes, com um  garoto chamado Akira. O filme mostra uma trama que mistura ficção científica, e explora os possíveis poderes sobrenaturais do cérebro humano. é um tema que muito me instiga, e toda série ou filme deste tipo me marca bastante, e me faz querer estudá-las em cada detalhe. Vale a pena para quem curte o gênero.

The Wall (1982)


Quem gosta de rock progressivo deve conhecer. Já quem não conhece, ao menos já viu algumas cenas, que fazem parte do clipe da música "Another brick in the wall".


O filme é uma opera-rock, como se fosse um grande clipe do disco todo, The wall. O mais interessante é a crítica social e filósofica que o filme faz a nosso estilo de vida contemporâneo, através da história de um cantor fictício, Pink. O filme é atravessado por uma metáfora interessante, a do Wall (muro em inglês). O que é esse muro? será aquilo construído pela sociedade para cercear, para controlar, para limitar nossos desejos e vontades? Será também aquilo que construímos, nós mesmos, para sermos aceitos pelos outros? Creio que os dois. Somos apenas tijolos no muro ("another brick in the wall"), partes de um sistema que criamos e que nos oprime, através da família (vejam a letra da música "Mother"), da escola ("Another brick in the wall"), do casamento ("Don't leave me now"). É um marco na reflexão de nosso atual estilo de vida, vale muito à pena ouvir e assistir!


Moça com brinco de pérola (2003)


Scarlett Johansson É uma atríz cuja beleza está em destaque (seja só na voz, em "Her", ao vivo, como em Lucy ou em "sob à pele"). Mas foi em 2003 que ela me encantou, com uma representação totalmente oposta à da loira fatal, estonteante e poderosa. Nesse filme de Peter Webber, ela é a criada de ninguém menos que Johannes Veermer, um dos maiores pintores holandeses. O filme é inspirado em um livro de Tracy Chevalier, que tenta montar a história fictícia por trás do quadro "moça com brinco de pérola":


Esse filme foi minha inspiração durante toda minha iniciação científica. Esse quadro, para quem olhar com calma, está transbordando de sensualidade. Mas não dessa sexualidade exposta e crua, que vemos hoje em dia. é algo do subentendido, da insinuação, tão sutil quanto o filme. é uma história que achei muito bela, mostrando que há formas de amor que se dão somente nas entrelinhas.

Espero que vocês tenham gostado muito dessa lista. Espero que assistam e se inspirem a deixar comentários sobre o que sentiram. Ah, e não se esqueçam de comentarem suas listas também!

Abraço à todos!



sábado, 7 de março de 2015

Xeque Mate



Alguns de meus alunos do atual 4º ano de Psicologia no Centro Universitário onde dou aulas, sugeriram que eu assistisse a um filme chamado "O filho de Caim" (de 2013, de Jesus Monlaó)



Uma de minhas colegas de trabalho sugeriu um outro filme, chamado "Garota Exemplar" (de 2014, de David Fincher)



Assisti os dois filmes em 3 dias.
Ao terminar, me lembrei de um outro chamado "Precisamos falar sobre Kevin" (de 2011, de Lynne Ramsay)



Não sei dizer se as propostas dos diretores se assemelham em algo além das classificações de drama/suspense, mas em meus pensamentos as semelhanças foram tecidas.

Não, não vou abordar teorias psicológicas tampouco destacar as psicopatologias dos personagens. O que quero aqui é falar das relações humanas (bom, aí vamos falar um pouco sim de psicologia..hehehe).

Quem já viu esses filmes ou quem pretende ver um ou alguns dos filmes...chamo a atenção para como as pessoas estabelecem suas relações com o outro. Principalmente como os personagens principais estabelecem suas relações com os outros personagens.

Me chamou a atenção o fato de as relações excluirem um fator importante: parece não existir o outro ou pelo menos não se dá importancia a esse outro enquanto pessoa.

O outro representa o diferente do "eu". Quando nos relacionarmos com o outro percebemos as diferenças (a alteridade), ou seja, aquilo que não sou eu (com outras vontades, desejos, preferências, etc). Nem sempre isso nos agrada, porém, é o outro! Ou deveria ser assim....

Sabemos que o bebê nasce e não sabe o que é ele, o que é mundo, o que é mãe, o que é seio...é tudo uma coisa só. E no processo de desenvolvimento vai se diferenciando, vai percebendo o que é seu, o que é do outro, o que é ele e o que é o outro....isso é desenvolver-se, é constituir-se e para tanto é necessário o outro.

Essa alteridade (o outro) dá condição de existência ao eu também. Afinal, sem o outro eu não existo. Mas é preciso compreender, respeitar e conviver com o diferente. E isso também permite que o eu se consitua de forma mais integrada. E permite que as pessoas se relacionem respeitando as diferenças. 

Parece que nestes filmes (entre outras explorações) há essa ideia de que os personagens não percebem o outro enquando alguém diferente deles, ou seja, com outras vontades, outras preferências, outros desejos, etc e pior "olham" para outro como um objeto ou uma ferramenta parte de sua história, de sua trama e que podem utilizá-la como parte de sua estratégia como se fosse uma peça. 

No filme tais relações entre pessoas (que parece relações entre objetos - também estudada na psicologia em algumas teorias como relações de objetos) em alguns momentos parece relações entre objetos.

Mas levanto algumas questões. No filme os personagens são bastante perversos, mas esse não reconhecimento do outro enquanto alguém diferente ou enquanto alguém que não está ali só pra satisfazer as vontades (como um objeto, uma peça) está muito distante de algumas relações atuais? 
Será que algumas relações que vemos tão próximas da gente não são assim?
Será que em alguns momentos as pessoas "funcionam" assim?
Será que somos objetos de alguém?
Será que alguém nos faz de objeto?
Será que fazemos alguém de objeto?

Pense nisso!
Xeque mate!
Beijo!





domingo, 1 de março de 2015

Robô: quando o homem busca criar a si mesmo



Ficção científica nem sempre é um gênero adorado. E quem gosta, nem sempre vê o filme pensando nas questões que ele levanta. Ficamos em êxtase com os maravilhosos efeitos especiais, e imaginamos como será nosso futuro. Mas ao Psicólogo, há aí muito também o que se pensar.

Uma das grandes perguntas que esses filmes levantam é: o que é o ser humano? É um corpo que pensa, raciocina? Se for assim, cada dia mais o homem está próximo de recriar aquilo que é, através da inteligência artificial. AlanTuring, cientista famoso e agora relembrado no filme "O jogo da imitação" (2014), criou um teste utilizado até hoje, que leva o mesmo nome do filme, e é utilizado para se avaliar o quanto um programa de inteligência artificial consegue se aproximar do raciocínio humano. O teste é o seguinte: um ser humano interage com o programa, através de uma série de questões, sem saber se está realmente questionando um homem ou uma máquina. Quanto mais tempo o homem ficar sem conseguir identificar a máquina, mais avançada é a inteligência artificial dela.

Entretanto, é somente a inteligência, a razão, que define o homem? Há filmes que questionam isso. Um grande escritor de ficção científica, Isaac Asimov, questionou sobre isso, em obras que inspiraram filmes que vocês já devem ter visto: 



Em "O homem bicentenário" (1999), Robin Willians é Andrew Martin, um robô com defeito. Isso mesmo, ele não é igual a nenhum robô fabricado, e seu defeito é justamente o que o faz questionar sobre si mesmo, sobre sua existência e mesmo sobre sua "humanidade". A jornada de Andrew é a de se tornar cada vez mais humanos, e ele faz constantes upgrades, modifica seu corpo, até que chega a única característica humana que ele não poderia concretizar: a morte. 

Seria a possibilidade da morte, como afirmam os existencialistas (e como vemos nas psicoterapias fenomenológicas e daseinanalíticas) aquilo que nos define? Eu acho, antes de tudo, que Andrew era como um transexual, que nasce em um corpo que não corresponde a sua mente, e batalha para mudá-lo. Ele nasceu com uma "mente humana", já era humano, e o que fez foi somente adaptar seu corpo à essa realidade, até as últimas consequências.



Eu, Robô (2004), Will Smith é um policial que passa a desconfiar que um robô cometeu um assassinato, o que é proibido pelas Três leis da Robótica. Ele então descobre uma trama na qual um robô foi fabricado com características semelhantes a de Andrew, um robê questionador, que quer saber sobre sua natureza e seu propósito no mundo.

Assim, as histórias de Asimov acabam mostrando que não é a inteligência que define nossa humanidade. É interessante que as máquinas mais humanas são aquelas que perguntam, deliberadamente, sobre o mundo ou sobre si mesmo. Seria então o homem um animal que pergunta sobre si mesmo?



Há ainda mais filmes que buscam mostrar a criação da humanidade em robôs. Um deles é A.I.: Inteligência Artificial (2001), projeto de filme criado pelo grande diretor Stanley Kubrick (criador de filmes como 2001: uma odisséia no espaço e Laranja mecânica), mas que foi executado por Steven Spielberg. O filme relata a história da criação de um robô-criança, com sentimentos humanos, e as implicações disso na vida de uma família que o "adota", buscando suprir a ausência de seu filho doente, congelado esperando uma cura. De acordo com a história, o amor incondicional de David, o robô, foi capaz de criar uma vida imaginária, de abrir seu pensamento ao universo simbólico: David, ao ouvir a história de pinóquio, identifica-se com o personagem, e pensa que se a fada azul da história o transformar em um menino de verdade, este poderá ser amado por sua mãe e aceito pela família.  

Vemos aí mais duas características consideradas humanas: a afetividade, principalmente a capacidade de amar, e a abertura a um mundo simbólico, com múltiplos significados.

Ainda há mais dois filmes recentes sobre isso. 



Her (2013), conta uma sensível história de amor entre um homem e um sistema operacional com inteligência artificial. Já imaginou você se apaixonar por seu Windows? Bem, o filme mostra um programa que experimenta, pensa e sente como um humano. Esse filme é tão impressionante que merece um post somente sobre ele. Mas já adiantamos aqui que, se o teste de Turing mede o quanto a inteligência artificial nos engana, o sistema operacional de Her é perfeito, já que nos apaixonamos por ele.



Trancendence: A revolução (2014), fala não da criação de uma mente humana, na verdade o filme percebe os limites tecnológicos em se criar do nada uma mente, então trabalham na ideia de conseguir copiar uma mente humana. Literalmente, no filme um cientista de inteligência artificial faz um upload de si mesmo para um computador. Uma mente, sem corpo, sem limitações, que pode acessar o que quiser e expandir ao máximo seu poder de raciocínio. O filme explora as consequências de tamanho poder dadas a uma máquina, que não tem as limitações do nosso corpo (uma mente que pode estar em vários lugares ao mesmo tempo, pode processar inúmeras informações, etc).

Bom, ainda há outros filmes que levantam essa questão. Se lembrarem de algo, ou quiserem continuar essa discussão, deixem um comentário.

Abraço a todos!