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Esta é a iniciativa de três professores de Psicologia (e cinéfilos), que passavam horas no whatsapp comentando inúmeros filmes, indicando novas (ou velhas) obras cinematográficas. Buscamos com este blog compartilhar com todos os interessados nossas indicações e opiniões, claro que bastante recheadas de visões psicológicas!


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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Desenvolvimento Psicossexual e formação de caráter: Homer Simpsons

O texto a seguir é a publicação do trabalho melhor pontuado realizado por um grupo de alunos que cursam o terceiro ano de Psicologia no Centro Universitário UNIFAFIBE. A proposta apresentada a eles era fazer uma análise que relacionava o desenvolvimento psicossexual, tal como proposto por Freud e complementado por Abraham, com determinados traços de caráter, em um determinado personagem fictício. Acompanhem a ótima análise feita de Homer Simpsons, em seu mundo recheado de Duffs e Donuts!



DESENVOLVIMENTO PSICOSSEXUAL E FORMAÇÃO DE CARÁTER

Autores: Ana Carolina Vicente, Andrea Schenten, Bruna Oliveira, Hypia Sanches, Janaína Matos Nascimento, Jéssica Bruna Baptista, Jonas Nobre


  1. INTRODUÇÃO 
O presente trabalho tem por objetivo discutir a teoria do desenvolvimento psicossexual proposta por Freud, e analisar as possíveis influências de eventuais fixações de energia libidinal em alguma das fases descritas – fase oral, fase anal e fase fálica – na formação da personalidade de um indivíduo, a partir de exemplo fictício.O material analisado será “Os Simpsons”, uma série televisiva animada criada por Matt Groening, nos Estados Unidos. Em específico, serão analisadas as características do personagem Homer Simpson e que fixações ele apresenta, de acordo com a teoria apresentada por Freud.

  1. OBJETIVOS

  • Compreender a divisão das fases e suas possíveis fixações;
  • Analisar a consequência dos eventos dessas fases que implicam no restante da vida do indivíduo;
  • Associar uma das fases com um exemplo fictício.

  1. A TEORIA DO DESENVOLVIMENTO LIBIDINAL E A FORMAÇÃO DE CARÁTER

A teoria do desenvolvimento libidinal de Freud prescreve que determinadas características de personalidade dos indivíduos dependem dos seus objetos de amor e/ou sexuais. Impõe-se assim, a necessidade de se entender o processo de desenvolvimento psicossexual para compreender a formação do caráter.
Freud traz o conceito de libido como sendo uma energia psicossexual presente em todo ser humano desde o nascimento, e o direcionamento dessa libido é o que explicaria os fenômenos psicossexuais. A pulsão é o impulso que busca por satisfações por meio de estimulação das zonas erógenas, que são partes do corpo que causam excitação sexual, e a pulsão é responsável por direcionar essa libido para algo ou alguém. 
      Para Freud, o desenvolvimento da sexualidade passa pelas seguintes fases: oral, anal e fálica, visando o amadurecimento sexual. Caso haja alguma fixação nessas fases, o indivíduo desenvolverá traços de personalidade próprios de cada fase.
Na fase oral, o bebê busca prazer através da estimulação da cavidade bucal em conjunto com a língua e com as regiões circunvizinhas. O principal objeto de satisfação de prazer nessa fase é o seio materno, pois essa estimulação acontece por meio da amamentação.
Durante a fase anal, o prazer infantil é experimentado na evacuação. É nessa fase que a criança aprende a controlar os esfíncteres e essa atividade de manipulação fecal é prazerosa, pois ela sente que tem domínio sobre o próprio corpo. Além disso, quando a criança está desenvolvendo a habilidade de controle das necessidades fisiológicas, ela recebe uma atenção especial dos pais e/ou cuidadores.
Na fase fálica, as crianças passam a ter consciência das diferenças sexuais. O principal objeto de busca de prazer são os genitais (pênis e clitóris) e é nessa fase que se iniciam as primeiras atividades masturbatórias.

3.1 O CARÁTER ORAL

A fase oral é marcada por duas atividades principais: succionar e morder. Na primeira, o sujeito tem o desejo de incorporar o objeto que lhe causa o prazer oral, no caso o seio. Mais tarde, com o aparecimento dos dentes, o prazer de succionar o seio é substituído pelo prazer da mordida. Dessa forma, o sujeito tende a triturar o objeto de prazer através da mordida para depois incorporá-lo.
Pode-se dividir em dois tipos à fase oral:

a)    Fase oral receptiva: ligada a atividade de sucção. A relação do bebê com o seio nessa fase é de passividade, sendo então caracterizada por um desejo violento e imediato, pois sem a mãe a criança se sente impotente. Em contrapartida, quando há a obtenção do seu objeto de prazer oral há também o sentimento de onipotência por ter atingido a satisfação do seu desejo. Se nessa fase a criança não tiver nenhum tipo de privação, o indivíduo terá caráter otimista e generoso, pois é como se o seio da mãe estivesse sempre farto de leite e terá uma obtenção de prazer muito grande. Em contrapartida, se houver frustrações, o indivíduo terá no seu caráter traços de pessimismo, ressentimento e de isolamento, pois há a sensação de que seus desejos não foram satisfeitos.

b)    Fase oral-sádica: ligada a atividade de morder. Nessa fase, o bebê usa a mordida como forma de incorporação do seio da mãe, querendo-o para si. O caráter do indivíduo fixado nessa fase é de busca por cuidado, mas ele acredita que só conseguirá isso caso prejudique alguém. Além de estar sempre insatisfeito com as coisas que possui, o indivíduo tende à atitudes destrutivas e de ódio, pois ele tem a sensação de que precisa se vingar das frustrações que o seio materno lhe proporcionou durante a infância.

  1. RESUMO DA SÉRIE DE ANIMAÇÃO

The Simpsons (Os Simpsons) é uma série de desenho animado, criada pelo americano Matt Groening. Segundo o site Wikipédia, a série surgiu inicialmente como um curta em 1987, mas após três temporadas de sucesso passou a ser um programa de televisão. Desde sua estreia na TV em 1989, Os Simpsons é uma das séries dos Estados Unidos com mais duração e já está em exibição a 27ª temporada, sendo que em 2007, foi transformada em filme e arrecadou milhões de dólares.
A série, voltada para o público jovem e adulto, mostra uma visão irônica e satírica da sociedade americana contemporânea por meio dos acontecimentos do dia-a-dia de uma família. O autor Matt nomeou os personagens de acordo com os nomes de sua própria família, substituindo apenas o seu nome por Bart.
A família da série é composta por cinco personagens: Homer e Marge, o pai que trabalha em uma Usina Nuclear e sua esposa dona de casa. O casal tem três filhos: o mais velho é Bart, um garoto rebelde de dez anos; Lisa, uma menina de oito anos que toca saxofone e Maggie, que ainda é uma bebê. Além deles, ao longo dos episódios também aparecem outros personagens, como, por exemplo, professores, amigos, parentes, vizinhos e celebridades. A família Simpsons possui dois animais de estimação: um cachorro chamado Ajudante de Papai Noel e um gato que atende pelo nome Bola de Neve.

5.    DISCUSSÃO


Conforme o material analisado, o personagem Homer Simpsons apresenta fixações na fase oral. Na série ele é representado como um pai de família alcoólatra, guloso, individualista, ciumento e, devido a sua insatisfação com as coisas que possui, está sempre reclamando.
Na totalidade dos episódios da série, ao observarmos Homer fisicamente, é notório que ele está acima do peso e que é um indivíduo sedentário. Isso mostra sua tendência para a gula e sua compulsão por bebidas, pois em vários episódios, Homer aparece bebendo cerveja ou comendo os famosos donuts, que são pequenas rosquinhas, populares nos EUA.
No 1º episódio da 21ª temporada, denominado “Homer, a baleia”, o personagem é colocado no elenco de um filme de Super-herói, e para atuar, precisa seguir à risca uma maratona de exercícios e uma dieta que um treinador fitness prescreve para ele. Em uma conversa o treinador pergunta “Homer, você sabe porque você come?”, e ele indaga como resposta “Seria porque estou engolindo minhas frustrações e decepções?”, essa fala de Homer evidencia que ele recorre à comida como forma de obtenção de prazer por não possuir recursos psíquicos para lidar com as dificuldades que ele encontra no seu cotidiano. Após dias de treino, Homer consegue emagrecer, mas no final do episódio ele já está gordo novamente, pois não resiste à sua inclinação para a comida e continua recorrendo à este meio como forma de satisfação pessoal.



Outro ponto a ser analisado no personagem é o alcoolismo. No episódio 16, “Vai uma loura geladinha?” da 4ª temporada, Homer dirige bêbado e acaba sendo detido e tendo sua carteira de habilitação caçada. Como forma de punição, ele é obrigado à frequentar as reuniões dos Alcoólicos Anônimos. Durante a primeira reunião quando ele se apresenta, o responsável pelo grupo diz “Homer, aqui com a nossa ajuda você jamais voltará a beber”, diante disso, a reação do personagem é de pavor e ele grita “NÃÃÃÃÃO!” e pula pela janela. Essa cena mostra claramente a dependência de Homer com o álcool. Grosso modo, pode-se julgar, a importância que o personagem dá a recorrência de objetos à boca como forma de prazer e fica evidente sua fixação na fase oral.



O pessimismo de Homer é mostrado fortemente em “A Odisséia de Homer” 3º episódio da 1ª temporada, onde ele perde seu emprego na Usina Nuclear por ficar o tempo todo comendo dunots ao invés de trabalhar. Quando Lisa mostra ao pai os anúncios de jornal com vagas de emprego, ele declara “Eu nunca fiz coisa alguma de valor na droga da minha vida! Eu sou um nada, sem serventia” e no decorrer do episódio, há cenas de Homer no bar bebendo. Há também uma cena em que ele está sentado no sofá de casa e na TV passa o comercial da cerveja Duff, Homer desliga a TV e diz “Cerveja! Ta aí uma solução provisória” e corre até a geladeira à procura de uma cerveja para beber. Dessa forma, nota-se que por não conseguir lidar com a frustração de estar desempregado, o personagem se deprime e recorre à bebida como forma de escape para o problema que está enfrentando. Após isso, Homer escreve uma carta de despedida para sua família com a seguinte frase “Espero apenas lhe dar um melhor exemplo morto do que dei em vida...”. Como mostrado nessa última cena apresentada, o personagem às vezes chega a ser individualista, pois Homer pensa em pôr um fim na própria vida como forma de alívio do próprio sofrimento, sem levar em consideração a sua situação familiar com esposa e filhos que ainda são pequenos e precisam do pai como base afetiva. Podemos afirmar que Homer é um indivíduo que se entrega aos prazeres do corpo por possuir imaturidade emocional. Para ele, lidar com suas decepções é algo muito difícil e por possuir fixações orais, ele recorre ao pessimismo, a bebida e ao apetite exagerado como sendo uma maneira mais fácil de “esquecer”, pelo menos por um momento, a situação que está vivenciando.



  1. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O grupo apresentou dificuldade de entendimento nas leituras dos textos que foram usados como base. Apesar disso, a associação das características do personagem apresentado em discussão com a fase oral foi feita de forma rápida e sem grandes embaraços.

  1. REFERÊNCIAS

D’ANDREA, F. F. Desenvolvimento da Personalidade. In: ______. Caráter oral. Rio de Janeiro: 16ª ed, 2003. p. 43-44
MERLEAU-PONTY, M. Contribuições dos sucessores de Freud. In: ______. Merleau-ponty na Sorbonne: Resumos de cursos – Psicossociologia e filosofia. Campinas, SP: Papirus, 1990. p. 98-105.
REIS, A. A.; MAGALHÃES, L. M. A.; GONÇALVES, W. L. Personalidade e caráter. In: ______. Teorias da Personalidade em Freud, Reich e Jung. São Paulo: EPU, 1984. (Temas básicos em Psicologia, 7). p. 24-41
ZIMERMAN, D. E. As fases do desenvolvimento. In: ______. Fundamentos psicanalíticos. Porto Alegre: Artmed, 1999. p. 92-95.