Boas vindas à todos!

Esta é a iniciativa de três professores de Psicologia (e cinéfilos), que passavam horas no whatsapp comentando inúmeros filmes, indicando novas (ou velhas) obras cinematográficas. Buscamos com este blog compartilhar com todos os interessados nossas indicações e opiniões, claro que bastante recheadas de visões psicológicas!


Caso se interesse pelo filme que indicamos, recomendamos que você assista o filme e retorne ao nosso texto, se possível comentando, concordando ou não com nossas opiniões, e claro dando as suas próprias!


Você é bem-vindo a participar com a gente!

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O melhor lance (2013)





Pessoas são engrenagens. Sozinhas envelhecem, enferrujadas, pelos cantos. Entretanto, ao longo da vida, essas engrenagens se esbarram, e aos poucos podem compor mecanismos maiores, e assim podem, enfim, fazer algum sentido. Esse é um dos temas que atravessam o suspense (que não parece ser no início, mas que te prende de uma forma que logo faz jus ao nome) "O melhor lance" (La Migliore Offerta em italiano, The best offer em inglês), filme do diretor italiano Giuseppe Tornatore. O filme fala de Virgil Oldman (Geoffrey Rush), especialista em arte e leiloeiro, contratado por Claire Ibbetson (Sylvia Hoeks) para leiloar as obras de arte e móveis deixados por seus pais. Claire é agorafóbica, ou seja, tem medo de lugares abertos, e evita mesmo o contato com os outros. No decorrer de seu trabalho, Virgil tem de conquistar a confiança de Claire, e inicia-se aí uma relação que mexe com ambos. 

No decorrer da avaliação das obras de arte, Virgil encontra conjuntos de engrenagens que mostram-se ser um misterioso quebra-cabeças, capaz de revelar um autômato de imenso valor. Essa metáfora é interessante no filme. Essencialmente, um autômato é uma mentira. Ele é um mecanismo feito de engrenagens para se parecer com um humano. Virgil, enquanto especialista em arte, é alguém que sabe reconhecer perfeitamente obras verdadeiras e falsas, valiosas ou não.

Toda obra de arte falsificada acaba por revelar algo autêntico, que é justamente o toque original do falsificador, que destoa da obra que está sendo falsificada. Ou seja, é dentro de uma mentira que você consegue encontrar algo de verdadeiro. Será esse autômato uma metáfora do homem, revelando, por entre suas engrenagens e mecanismos falsos, uma verdade?

Se se interessarem pelo filme, leiam novamente esse texto, tente pensar um pouco mais nessas reflexões, e compartilhe conosco nos comentários!











domingo, 1 de fevereiro de 2015

Clube de Compras Dallas (2014)



Esse é um dos grandes ganhadores do Oscar de melhor ator principal (Matthew McConaughey) e coadjuvante (Jared Leto) de 2014. Na década de 1980, a AIDS ainda é uma doença associada a grupos de risco, sendo chamada de "câncer gay". Não é à toa que o eletricista texano Ron Woodroof se surpreende ao ser diagnosticado com a doença. Ele mesmo homofóbico, passa a ser discriminado pela comunidade onde vivia, estando sentenciado à morte, dentro de 30 dias.

Na época o AZT, a primeira droga lançada contra o vírus HIV, estava sendo testado, sendo somente distribuídos a poucos pacientes (que não sabiam se estavam recebendo o remédio ou o placebo). Mas seus efeitos colaterais eram gigantescos. Woodroof vai buscar um médico no México, e descobre outras formas de tratamento, o que bem depois levará a criação do coquetel de tratamento.

Essa história é comovente em seus mais diversos níveis. Ela nos trás um pouco da luta dos portadores do HIV por tratamento, tendo muitas vezes que enfrentar as indústrias farmacêuticas, que focavam na venda do AZT. Além disso, ela nos mostra como que a doença deu visibilidade à discriminação dos homossexuais, travestis e transexuais. Mesmo Woodroof, texano e peão de rodeio, sempre mostrou desprezo pelos gays, mas a convivência com Rayon, o fez modificar sua visão, criando por ela um afeto sincero. 

Essa parte é muito interessante. Perceber como a convivência em um problema e um ideal comum podem reunir mundos tão discrepantes como um peão (com toda sua incorporação do ideal heteronormativo), e uma travesti. E como que a convivência, o encontro, consegue mostrar a fragilidade de qualquer estereótipo. Quando há preconceito, há um abismo entre o mundo considerado "normal" e "bom", daquele que é considerado "doentio" e "pecaminoso". quanto maior a distância, o estereótipo aumenta, pelo desconhecimento de que um e outro são, no seu conjunto, seres humanos. Assim, com o tempo, Woodroof deixa de maltratar Rayon por suas escolhas sexuais e de gênero, e passa a vê-la como uma pessoa boa, com ótimo tino comercial, porém com dificuldades de superar seus problemas com a doença e com o abandono afetivo de seu pai, abusando das drogas. Ou seja, como uma pessoa inteira, com seus altos e baixos.

Vale muito a pena assistir a esse filme, e ver com mais detalhes essa parte muito importante de nossa história.