Boas vindas à todos!

Esta é a iniciativa de três professores de Psicologia (e cinéfilos), que passavam horas no whatsapp comentando inúmeros filmes, indicando novas (ou velhas) obras cinematográficas. Buscamos com este blog compartilhar com todos os interessados nossas indicações e opiniões, claro que bastante recheadas de visões psicológicas!


Caso se interesse pelo filme que indicamos, recomendamos que você assista o filme e retorne ao nosso texto, se possível comentando, concordando ou não com nossas opiniões, e claro dando as suas próprias!


Você é bem-vindo a participar com a gente!

terça-feira, 27 de dezembro de 2016

Série The Fall

Essa postagem se refere a uma sugestão de série. 
Diferente de comentar sobre um filme, um personagem ou uma perspectiva, como fazemos, geralmente no blog, desta vez, optei por realizar uma postagem de sugestão!

Há um tempo decidi assistir a Série The Fall, exibida atualmente pelo canal GNT (também tem naquela plataforma popular de filmes, series e documentários, atualmente muito utilizada por nós brasileiros) e confesso que me surpreendi. E esse é o motivo da postagem de hoje!!

The Fall é uma série de suspense e drama policial. Produzida no Reino Unido em 2013 e já finalizada. Conta com 3 temporadas, as quais totalizam 17 episódios (5 na primeira, 6 na segunda e 6 na terceira).

The Fall relata a história de uma Detetive Superintendente (Stella Gibson) e a busca pelo assassino de Belfast ou o Estrangulador de Belfast, que mata jovens mulheres da cidade. A Detetive e sua equipe correm contra o tempo para encontrar esse assassino antes que ele ataque novamente.

Trailer The Fall (em inglês)
  

No elenco temos a esplendida Gillian Anderson (para o pessoal "mais antigo" ela foi a Dana Scully da série Arquivo-X e na série Hannibal, foi a psiquiatra Drª Bedelia Du Maurier, entre outras produções) no papel de Stella Gibson. E também Jamie Dornan como um terapeuta de luto, Paul (Jamie Dornan é especialmente conhecido por seu papel em Cinquenta Tons de Cinza). Eles configuram os principais ícones da trama. 


Em meio a tantas séries de suspenses psicológicos, em especial sobre caçada a assassinos, sobre serial killers e suas vitimas, etc, além da atração que esse tipo de tema desperta no publico, eu poderia sugerir muitas outras e comentar sobre elas. Contudo, decidi por abordar essa, por ter uma produção muito diferenciada (vale ressaltar que eu também sugiro Hannibal e The Killing, sobre as quais podemos conversar num outro momento).

A série tem diálogos interessantes e muitas vezes complexos, o que pode fazer o telespectador precisar voltar a cena. Alguns detalhes da trama são tão sutis que realmente passam despercebidos, detalhes na fala, no gesto, na mudança de atitude dos personagens. Talvez o diretor tivesse tal intenção ou talvez seja algo para ficar implicito, para levar as discussões do "e se isso" ou "será"? Ou ainda podemos pensar no toque inglês, tão polido e contido, por vezes.

A série vai no fluxo inverso ao que parece que as pessoas desejam e vivem hoje, ou seja, a série é lenta....os acontecimentos levam alguns dias e a sensação é que ao longo dos 50 minutos do episódio é preciso estar em estado de atenção e aguardo, pois não é realmente possível prever o próximo passo ou acelerar o processo.

É possível notar um certo envolvimento com os personagens, você torce e sofre com eles, mesmo sabendo sobre seus atos, sobre suas dificuldades, seus erros, suas fantasias, intenções, etc. É como se você encontrasse dentro de você uma parte que consegue compreender a complexidade do sofrimento ou de algo humano, mesmo se tratando de atitudes de pessoas que podem cometer crimes.

Outro ponto interessante é que a série mostra como as pessoas próximas e com algum envolvimento com o assassino têm diferentes formas de lidar e de viver o fato da descoberta. E há sensibilidade para relatar algumas delas.

Bom, outro ponto que já antecipo sobre minha experiência (minha, pode não ser a de outras pessoas), é que não foi o tipo de série que em 3 dias eu finalizei. Levou mais tempo, mas me "prendeu" e me surpreendeu muito.

Fica aí a dica.
Faça sua sugestão também!!
Bjos

domingo, 11 de dezembro de 2016

Boa noite, mamãe.

Um dia desses, estava eu pesquisando filmes nessas listas de "filmes para psicólogos" ou "filmes imperdíveis para quem gosta de psicologia" e me deparei com uma lista de 20 filmes criadas por um site. 
Entrei na página e um dos filmes me chamou muito a atenção. Era o 18º título - chamado: Boa noite, mamãe (ou Ich seh, Ich seh). É um filme austríaco de 2014.
Na sinopse dizia que se tratava de uma história em que a mãe, após ficar alguns dias ausente devido a cirurgias plásticas, não é reconhecida pelos filhos gêmeos de 9 anos. As crianças desconfiam da mulher e nada será como antes. 


Trailer: Boa noite, mamãe.




Atenção 1: Se você deseja assistir ao filme, sugiro que não prossiga com a leitura pois há SPOILERS).
Atenção 2: Esse filme pode ser considerado suspense para alguns e terror para outros. Depende das perspectivas pessoais. 
Atenção 3: Tem muitos mistérios no filme e você pode optar por "explicá-los ou entendê-los" a partir da psicologia ou a partir daquilo que lhe for mais satisfatório. 

Eu optei pela psicologia para poder abordar temas importantes como: trauma, encontro, separação, morte psíquica e infância.
Algo aconteceu com essa família, com todos os membros: filhos e mãe (o pai não aparece no filme).
O filme inicia com os irmãos brincando juntos e então avistam a mãe chegando (que estava ausente devido às cirurgias).
Eles correm para reencontrá-la, na expectativa de rever a mãe.  E a cena que segue é surpreendente (pela atuação desses pequenos atores) e pela sensação despertada: "não parece" a mesma mãe. As crianças a estranham. Ela está com o rosto inteiramente coberto por faixas. Os olhos e a voz poderiam salvar-lhes daquela estranheza, mas parece que não acontece, além de ficar implícito de não ser só isso.

Ao longo do filme, a sensação transmitida é que aquela mãe está morta, na realidade, morta psiquicamente (no sentido de André Green de morte). Parece que algo lhe aconteceu que lhe desvitalizou, que lhe tirou a vitalidade.
O que será que aconteceu na história dessa família, que a essa mãe foram necessários reparos concretos e externos?

Os meninos, se questionam se ela é mesmo a mãe deles, e buscam a todo momento por sinais que indiquem que é ou não ela. Essa busca é desesperadora. Parece a busca pelo reencontro. Aquela busca por algo que foi perdido e que é necessário reencontrar para sobreviver, ou mesmo para não enlouquecer.

Outra sensação de incomodo é que a mãe parece preferir um dos filhos (Elias), pois se reporta muito mais a ele, se dirige somente a ele, enquanto o outro (Lukas) fica, na maioria das cenas, atras de Elias, em segundo plano. A mãe não menciona seu nome, parece ignorá-lo durante a maior parte do filme.



Os meninos têm pesadelos com essa mãe. Em uma cena, eles ouvem uma gravação da voz da mãe e ficam comparando com a voz a atual mãe e não acreditam que aquela, pós-cirúrgica é, de fato, a mãe deles, afinal na gravação ela está amorosa, carinhosa, cheia de vida. 

Eu não gostaria de detalhar mais o filme, na realidade, me parece que é necessário assistir para entrar em contato com o desespero desses meninos.

Contudo, faz-se necessário destacar que o desencontro acontece em todas as nossas relações. Em alguns momentos estamos desencontrados de nossos pares (sejam os pais, os parceiros, os amigos, analistas ou psicoterapeutas, e até de nós mesmos), e esse desencontro pode levar a muitos caminhos: inclusive a saltos de desenvolvimento, porém, aqui vou destacar o outro lado. Aqui, destaco o caminho da solidão, do desespero, do medo pois é como se não houvesse um outro para te nortear, outro que compreendesse o que está acontecendo, não há o reconhecimento de si no outro. Podendo chegar a loucura, quando aliado a um trauma (como é o caso do filme). 
No filme há um evento traumático que, supostamente, leva a irromper a situação.


Teoricamente, é possível destacar como alguns desencontros acontecem. Ouvimos falar da dificuldade de fazer contato, de compreender sinais e pedidos, quando a comunicação não acontece. Inclusive entre a mãe e o bebê. As vezes as dificuldades aparecem até mesmo em manifestações físicas, em impossibilidades emocionais, em indisposições e falta de espaço para abrigar ou receber o outro, ou o que o outro traz, apresenta ou oferece. 
Não há o enamoramento, ou seja, o enlace entre as partes (sejam elas quais forem), não há a possibilidade do recebimento. E isso não é inato não.....é construído entre os seres em constantes trocas. Mas se não houver a disposição e a disponibilidade para tal, ou ela deverá ser desenvolvida ou, se foi, perdida, pode ser resgatada. 

Alguns autores abordam esse encontro e desencontro. Entre eles podemos citar Winnicott e Lacan.

O mito de Eros e Psiquê também fala da dificuldade que essas entidades passam para então encontrar-se. O que se dá com a ajuda dos Desus maiores Zeus e Vênus.

O que acontece no filme chega a uma situação limite. Tanto para a mãe, que não encontra amparo e compreensão para sua dor. Tanto para o filho que, no desespero do desencontro, chega a tomar atitudes desenfreadas em busca da sua "verdadeira mãe". É realmente impactante.

Não vou dizer-lhes que acontece no filme é possível de ser evitado, nem posso. Contudo, vale muito pensar como é importante tentar buscar por amparo quando o desencontro acontece, pois é possível sim, reencontrar.

Ademais, minha intenção maior é sugerir um filme intrigante e que me chamou tanto a atenção, que gostaria de compartilhar com vocês!
E tentar dar vida ao blog novamente.
=)