Um dia desses, estava eu pesquisando filmes nessas listas de "filmes para psicólogos" ou "filmes imperdíveis para quem gosta de psicologia" e me deparei com uma lista de 20 filmes criadas por um site.
Entrei na página e um dos filmes me chamou muito a atenção. Era o 18º título - chamado: Boa noite, mamãe (ou Ich seh, Ich seh). É um filme austríaco de 2014.
Na sinopse dizia que se tratava de uma história em que a mãe, após ficar alguns dias ausente devido a cirurgias plásticas, não é reconhecida pelos filhos gêmeos de 9 anos. As crianças desconfiam da mulher e nada será como antes.
Trailer: Boa noite, mamãe.
Atenção 1: Se você deseja assistir ao filme, sugiro que não prossiga com a leitura pois há SPOILERS).
Atenção 2: Esse filme pode ser considerado suspense para alguns e terror para outros. Depende das perspectivas pessoais.
Atenção 3: Tem muitos mistérios no filme e você pode optar por "explicá-los ou entendê-los" a partir da psicologia ou a partir daquilo que lhe for mais satisfatório.
Eu optei pela psicologia para poder abordar temas importantes como: trauma, encontro, separação, morte psíquica e infância.
Algo aconteceu com essa família, com todos os membros: filhos e mãe (o pai não aparece no filme).
O filme inicia com os irmãos brincando juntos e então avistam a mãe chegando (que estava ausente devido às cirurgias).
Eles correm para reencontrá-la, na expectativa de rever a mãe. E a cena que segue é surpreendente (pela atuação desses pequenos atores) e pela sensação despertada: "não parece" a mesma mãe. As crianças a estranham. Ela está com o rosto inteiramente coberto por faixas. Os olhos e a voz poderiam salvar-lhes daquela estranheza, mas parece que não acontece, além de ficar implícito de não ser só isso.
Ao longo do filme, a sensação transmitida é que aquela mãe está morta, na realidade, morta psiquicamente (no sentido de André Green de morte). Parece que algo lhe aconteceu que lhe desvitalizou, que lhe tirou a vitalidade.
O que será que aconteceu na história dessa família, que a essa mãe foram necessários reparos concretos e externos?
Ao longo do filme, a sensação transmitida é que aquela mãe está morta, na realidade, morta psiquicamente (no sentido de André Green de morte). Parece que algo lhe aconteceu que lhe desvitalizou, que lhe tirou a vitalidade.
O que será que aconteceu na história dessa família, que a essa mãe foram necessários reparos concretos e externos?
Os meninos, se questionam se ela é mesmo a mãe deles, e buscam a todo momento por sinais que indiquem que é ou não ela. Essa busca é desesperadora. Parece a busca pelo reencontro. Aquela busca por algo que foi perdido e que é necessário reencontrar para sobreviver, ou mesmo para não enlouquecer.
Outra sensação de incomodo é que a mãe parece preferir um dos filhos (Elias), pois se reporta muito mais a ele, se dirige somente a ele, enquanto o outro (Lukas) fica, na maioria das cenas, atras de Elias, em segundo plano. A mãe não menciona seu nome, parece ignorá-lo durante a maior parte do filme.
Os meninos têm pesadelos com essa mãe. Em uma cena, eles ouvem uma gravação da voz da mãe e ficam comparando com a voz a atual mãe e não acreditam que aquela, pós-cirúrgica é, de fato, a mãe deles, afinal na gravação ela está amorosa, carinhosa, cheia de vida.
Eu não gostaria de detalhar mais o filme, na realidade, me parece que é necessário assistir para entrar em contato com o desespero desses meninos.
O que acontece no filme chega a uma situação limite. Tanto para a mãe, que não encontra amparo e compreensão para sua dor. Tanto para o filho que, no desespero do desencontro, chega a tomar atitudes desenfreadas em busca da sua "verdadeira mãe". É realmente impactante.
Não vou dizer-lhes que acontece no filme é possível de ser evitado, nem posso. Contudo, vale muito pensar como é importante tentar buscar por amparo quando o desencontro acontece, pois é possível sim, reencontrar.
Ademais, minha intenção maior é sugerir um filme intrigante e que me chamou tanto a atenção, que gostaria de compartilhar com vocês!
E tentar dar vida ao blog novamente.
=)
Contudo, faz-se necessário destacar que o desencontro acontece em todas as nossas relações. Em alguns momentos estamos desencontrados de nossos pares (sejam os pais, os parceiros, os amigos, analistas ou psicoterapeutas, e até de nós mesmos), e esse desencontro pode levar a muitos caminhos: inclusive a saltos de desenvolvimento, porém, aqui vou destacar o outro lado. Aqui, destaco o caminho da solidão, do desespero, do medo pois é como se não houvesse um outro para te nortear, outro que compreendesse o que está acontecendo, não há o reconhecimento de si no outro. Podendo chegar a loucura, quando aliado a um trauma (como é o caso do filme).
No filme há um evento traumático que, supostamente, leva a irromper a situação.
Teoricamente, é possível destacar como alguns desencontros acontecem. Ouvimos falar da dificuldade de fazer contato, de compreender sinais e pedidos, quando a comunicação não acontece. Inclusive entre a mãe e o bebê. As vezes as dificuldades aparecem até mesmo em manifestações físicas, em impossibilidades emocionais, em indisposições e falta de espaço para abrigar ou receber o outro, ou o que o outro traz, apresenta ou oferece.
Não há o enamoramento, ou seja, o enlace entre as partes (sejam elas quais forem), não há a possibilidade do recebimento. E isso não é inato não.....é construído entre os seres em constantes trocas. Mas se não houver a disposição e a disponibilidade para tal, ou ela deverá ser desenvolvida ou, se foi, perdida, pode ser resgatada.
Alguns autores abordam esse encontro e desencontro. Entre eles podemos citar Winnicott e Lacan.
O mito de Eros e Psiquê também fala da dificuldade que essas entidades passam para então encontrar-se. O que se dá com a ajuda dos Desus maiores Zeus e Vênus.
O que acontece no filme chega a uma situação limite. Tanto para a mãe, que não encontra amparo e compreensão para sua dor. Tanto para o filho que, no desespero do desencontro, chega a tomar atitudes desenfreadas em busca da sua "verdadeira mãe". É realmente impactante.
Não vou dizer-lhes que acontece no filme é possível de ser evitado, nem posso. Contudo, vale muito pensar como é importante tentar buscar por amparo quando o desencontro acontece, pois é possível sim, reencontrar.
Ademais, minha intenção maior é sugerir um filme intrigante e que me chamou tanto a atenção, que gostaria de compartilhar com vocês!
E tentar dar vida ao blog novamente.
=)
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